MEIO AMBIENTE: REALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS NA REGIÃO

Norte de Minas vive período crítico de gestão de recursos hídricos e ambientalista analisa o impacto da falta de proteção das nascentes e dos próprios rios que abastecem Montes Claros e região.

Como parte fundamental de se colocar em discussão assuntos relacionados com o recurso natural mais importante do planeta, o Dia Mundial da Água é comemorado neste dia 22 de Março com estatísticas preocupantes acerca desse bem no planeta. Na região norte mineira duas bacias tem sido objeto de estudo e profunda observação dos ambientalistas e órgãos fiscalizadores da gestão das águas: A Bacia do Verde Grande, que segundo o COMITÊ DA BACIA DO VERDE GRANDE, tem 87% por cento de sua área pertencente a Minas Gerais e 13% à Bahia, das quais Montes Claros é a maior região consumidora e de onde foi implantado e construído pelo governo mineiro uma estação de captação e distribuição de água em 1982 e que atualmente oscila entre 14 e 35% de sua totalidade de captação hídrica e a Bacia do médio São Francisco, que passará a fornecer também para a população de Montes Claros captação de recursos oriundos do Rio São Francisco.

O Ambientalista Eduardo Gomes, fundador do IGS - Instituto Grande Sertão em 1999 se dedica à observação, estudo e análise desde a década de 1990 tanto os recursos hídricos da região norte mineira, que envolve a bacia do médio São Francisco. Como um dos principais críticos da falta de gestão destes recursos e do pouco investimento em sua proteção, ele concedeu entrevista ao BUSCAQUI para falar sobre a atual situação da região norte mineira.

Como estão os recursos hídricos do Norte de Minas neste momento

Eduardo Gomes:
Infelizmente nossos recursos hídricos ainda passam por risco ambiental. Nós tivemos durante os últimos 10 anos um grau de escassez hídrica muito forte e isso aliado à degradação e ao uso incorreto desses recursos superficiais e principalmente subterrâneos nós ainda temos uma situação crítica a cada novo ano e ela não melhora porque a gestão é deficiente, o uso é descontrolado e os processos de preservação ainda são muito lentos diante do grau de degradação.

Como você vê a construção da adutora para trazer água para Montes Claros vinda direto do Rio São Francisco. Que tipo de impacto ambiental isso poder ter?

Eduardo Gomes: O impacto é o uso do próprio rio São Francisco apesar de ele ter essa capacidade pra fornecimento de água pra consumo humano. Lembrando que em comparação de impactos de captação para agricultura e irrigação, que hoje é a grande demanda e hoje ela é extremamente prejudicial por que ela usa tecnologia de derramamento de água com muito desperdício, o fato de haver a retirada para o consumo humano não é tão danosa ao rio. O que é extremamente importante é continuar o processo de recuperação da Bacia do São Francisco para minimizar este impacto do uso desse recurso. Porém em Montes Claros, o governo abandonou outros projetos o que acabou caminhando para um colapso e teve essa solução inevitável. Porém, é preciso que se faça uma gestão mais eficiente junto à população para o consumo racional.


Nascente do Riachão faz parte da bacia hidrográfica de Montes Claros e sofreu com incêndio próximo a região de palmital em 2019. - Foto: Eduardo Gomes



Você vê algum tipo de responsabilidade de estatais como a Copasa na crise hídrica do Norte de Minas?

Eduardo Gomes: A Copasa e outros órgãos que fazem gestão de recursos hídricos evidentemente são os responsáveis. O que a Copasa faz pouco e ela faz propaganda que faz muito é o apoio a conservação. Ela usa a água, ela realiza o tratamento da água e nos vende essa água e ela faz muito pouco à questão da conservação de nossos recursos hídricos. Um grande exemplo é a retirada de água das unidades de conservação, mais especificamente aqui do nosso Parque da Lapa Grande, que foi um Parque criado pelos ambientalistas e das ONGs, e não teve iniciativa de governo nenhum e nem da própria Copasa. A Lapa Grande é um parque de alta prioridade de conservação por causa do recurso hídrico que abastece grande parte da população de Montes Claros. A Copasa se nega desde o início a fazer as compensações financeiras previstas em lei. Essas compensações seriam muito importantes para ampliar a conservação e proteção dessa unidade e de outras áreas de recarga.

Que tipo de papel exercem as ONGS como o IGS para que haja conscientização da população na economia deste recurso?

Eduardo Gomes: As ONGs tem um papel importantíssimo como é o caso do IGS - Instituto Grande Sertão, da OVIVE, e de outras ONGs regionais porque nós, de forma voluntária, fazemos a mobilização, fazemos um trabalho de educação e fazemos um trabalho de vigilância e denúncia contra ações de degradação. Isso é muitas vezes o papel que o governo deveria estar fazendo e é muito difícil ter essa ação de ONGs por que não existe apoio para que elas permaneçam exercendo a fiscalização. Cada dia temos menos apoio e as vezes existe uma politização do nosso trabalho, coisa que é totalmente injusta por que é um trabalho onde os resultados são proteger a coletividade. As pessoas precisam enxergar desta forma o trabalho das ONG´s. Ao proteger um rio, uma nascente, ao fazer uma denúncia sobre degradação, nós estamos protegendo a coletividade. É assim que as pessoas precisam enxergar o trabalho das ONG´s com um todo.


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